❄️ O frio que encarece o café: geadas ameaçam produção e podem elevar preços ao consumidor
Massa polar prevista para esta semana atinge regiões produtoras de café arábica; especialistas temem perdas nas lavouras e impacto direto no bolso do brasileiro
ECONOMIA
Janaina Veiga
5/27/20253 min read


Imagem: Freepik
Uma intensa massa de ar polar deve derrubar as temperaturas em diversas regiões do Brasil a partir desta terça-feira (27), trazendo consigo um fenômeno temido pelos produtores rurais: a geada. O alerta máximo é para áreas cafeeiras dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, onde o frio extremo pode provocar perdas significativas nas lavouras de café arábica — justamente o tipo mais consumido no país e no exterior.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as mínimas podem ficar abaixo de 0ºC em pontos altos do Sudeste e Sul, especialmente entre a madrugada de quarta-feira (28) e quinta (29). Técnicos de campo, cooperativas e agentes do mercado estão em estado de atenção total.
🌱 Lavouras jovens são as mais vulneráveis
Os especialistas explicam que o maior risco está nas lavouras novas ou recém-podadas, que ainda não desenvolveram estrutura suficiente para resistir ao frio intenso. O fenômeno conhecido como queima de ponteiros afeta diretamente a parte superior da planta, responsável pela formação dos frutos.
"Uma única madrugada de geada pode comprometer toda a safra do ano seguinte", afirma o engenheiro agrônomo Rafael Vieira, da Cooperativa Regional de Cafeicultores do Sul de Minas. “O problema é que a planta precisa de tempo para se recuperar, e isso pode significar até dois anos de prejuízo.”
📉 Perda pode atingir até 10% da safra em cenário crítico
A safra brasileira de café 2025/2026, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), é estimada em 56 milhões de sacas. No entanto, o cenário pode mudar drasticamente se as geadas forem intensas e atingirem um número expressivo de propriedades.
Consultorias privadas como a Safras & Mercado estimam que até 10% da safra pode ser comprometida em um cenário mais severo. Isso representa uma possível perda de mais de 5 milhões de sacas, o suficiente para desequilibrar a oferta global.
Além disso, o Brasil é o maior exportador de café do mundo. Qualquer impacto relevante por aqui repercute diretamente no mercado internacional, elevando os preços em dólar e pressionando o valor final ao consumidor brasileiro.
☕ Preços ao consumidor podem subir no segundo semestre
No mercado financeiro, os contratos futuros de café arábica já começaram a reagir. A cotação na bolsa de Nova York (ICE) registrou alta de mais de 6% nos últimos cinco dias, sinalizando a preocupação do mercado com a previsão de geadas.
“Se houver perdas confirmadas, os preços devem subir nos supermercados a partir de agosto”, avalia Larissa Fernandes, analista de mercado da consultoria StoneX. “O aumento pode variar entre R$ 2 e R$ 5 por pacote de 500 g, dependendo da marca e da qualidade do grão.”
Em 2021, uma forte onda de frio levou o preço da saca de café a ultrapassar R$ 1.000, e os efeitos foram sentidos pelos consumidores por vários meses. O risco de um cenário semelhante preocupa produtores e comerciantes.
🔧 O que os produtores estão fazendo para proteger as plantações
Nas propriedades rurais, o clima de urgência domina os preparativos. Muitos cafeicultores estão utilizando estratégias emergenciais para tentar mitigar os impactos do frio:
Irrigação noturna: mantém a temperatura do solo e reduz a chance de formação de cristais de gelo;
Ventiladores agrícolas e turbinas de vento: ajudam a misturar o ar frio da superfície com o ar mais quente acima, reduzindo o risco de congelamento;
Queima controlada de biomassa ou pellets de madeira: gera fumaça úmida que ajuda a conter o avanço do frio nas madrugadas mais críticas.
Apesar disso, essas medidas são caras e nem sempre acessíveis a pequenos produtores, que muitas vezes ficam à mercê das condições climáticas.
🧾 Seguro rural cobre apenas parte das áreas cultivadas
Outro problema é a baixa cobertura de seguro agrícola no país. Dados do Ministério da Agricultura mostram que apenas 1 em cada 4 hectares de café conta com algum tipo de proteção contra intempéries. O governo estuda ampliar os subsídios para incentivar a adesão a apólices, mas a medida ainda está em análise.
“Quem não tem seguro pode perder tudo”, lamenta o produtor Elizeu Mendes, de Patrocínio (MG), que cultiva 14 hectares de arábica. “A gente reza para o frio não ser tão forte. Já tivemos perdas em 2021 e só agora estávamos começando a nos recuperar.”
📅 E agora?
O momento é de espera e monitoramento. O Inmet e outras instituições climáticas recomendam que produtores acompanhem os boletins diários e evitem operações arriscadas até que a frente fria passe completamente.
Para os consumidores, especialistas recomendam antecipar compras de café, especialmente os grãos premium e especiais, que costumam ser os primeiros a subir de preço. Comprar pacotes em promoção pode ser uma forma de fugir da alta que pode vir a partir de julho.
PontoBR - News
Informação com Responsabilidade.
© 2025. Todos os direitos reservados